Marlene Alves Fernandes*
“A fé é o sentimento inato, no homem… que ele deve fazer germinar e crescer, através da sua vontade ativa.” (ESE, Capítulo XIX, Um Espírito Protetor, Paris 1863)
Na vida lidamos com situações diversas: questões familiares, de trabalho, de relacionamento, existenciais etc. Cotidianamente, produzimos uma gama enorme de pensamentos. Somos seres racionais, permeados de sentimentos e emoções. Muitas questões conseguimos resolver pela razão, mas algumas somente pela fé.
Pela razão, usando do conhecimento que temos, fazemos uma análise lógica e chegamos a uma conclusão, também lógica. Pela fé, manifestamos o sentimento inato da certeza, convictos da realização.
Allan Kardec soube unir com maestria esses dois conceitos – razão e fé – na codificação da doutrina dos Espíritos. Usando do método científico, da lógica, procurou interpretar os ensinamentos trazidos pelos Espíritos, adotados como a Nova Revelação. De forma criteriosa, usando o saber, desvendou de forma racional os mistérios por detrás da fé cega, dogmática: ou seja, apresentou-nos a fé raciocinada, compreendida pelo raciocínio. Nossa fé no Divino não foi questionada de forma a refutá-la; ao contrário, ela foi confirmada, de forma argumentativa, depreendida das verdades reveladas e da observação dos fatos.
E é dessa fé raciocinada que tiramos muitos ensinamentos para a nossa vida diária, basta a vontade. Assim, sabemos que podemos ter fé em um futuro promissor se nossas ações são pautadas no bem; que não estamos desamparados, à mercê da sorte, mas sustentados por Leis que não são falíveis.
A fé é força íntima, contida em nós, da qual não tomamos conta. Poucos foram ou são aqueles que conseguiram, ou conseguem, entender e utilizar-se da fé. A maioria de nós ainda a percebe como algo exterior e, assim, coloca em objetos a explicação das ocorrências, sejam elas materiais ou espirituais.
Diferentemente da esperança, que se traduz numa confiança plena de realização, fé significa certeza! Acreditar é importante, mas ter fé é essencial.
Esse sentimento inato é a alavanca que podemos usar a nosso favor. Para impulsionar nossos propósitos, basta a vontade, sejam esses propósitos terrenos ou divinos.
A fé humana nos direciona na concretização de nossos desejos mais imediatos ou materiais; a fé divina, dá-nos a certeza da Providência Divina, de um futuro celeste e feliz, movendo-nos ao bem e às boas ações.
Temos em nós a essência Divina, e nela está contida a fé e a esperança no Criador. Não podemos duvidar disso, pois é inerente a todos nós.
Paulo de Tarso, na epístola aos Hebreus, 11:1, assim conceitua fé:
“o que é fé – a fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se veem.” (grifo nosso)
Paulo nos traz um conceito de fé muito profundo, de algo que já faz parte de nós, e do qual, muitas vezes, não tomamos conta (não sabemos que existe). Não precisamos buscar fora de nós, pois já a possuímos. Basta-nos, apenas, o nosso despertar; a tomada de consciência.
Deus é nosso Grande provedor. Assim, quando nos voltamos a Ele, não podemos deixar que a dúvida lance suas sombras (suas âncoras) em nós. Devemos permitir que a fé (certeza) e a esperança (confiança plena) na Providência Divina nos traga o que buscamos.
O soerguimento íntimo tem como alavanca a fé, que nos impulsiona ao progresso. Quem confia consegue perseverar e alcança aquilo que almeja. Quando deixamos que a incerteza, o medo e a dúvida rondem nossos pensamentos, estamos na realidade atuando contra nós mesmos.
Onde há fé não há espaço para a dúvida. No mundo das experiências, a dúvida pode levar ao progresso material, mas, no plano íntimo, ela corrói nossas energias deixa-nos tímidos e amedrontados, sem ação.
O auxílio Divino, o amparo, de quel necessitamos, virá desde que não duvidemos de nós mesmos, de nossas capacidades, de nossa força interior – que se traduz em fé e esperança.
Cada um de nós é responsável pelo próprio aprimoramento. É a vontade íntima da mudança para melhor que nos impulsiona e nos faz sair da estagnação. Ninguém consegue nos ajudar na melhoria de nós mesmos se não estamos dispostos a isto.
Então, se duvido de mim e de Deus, estou sabotando a mim mesmo; em nada estou me ajudando; ao contrário, só atrapalhando. Dúvida também é força, mas que age contra nós.
Assim, a fé nos move, porque tendo a certeza agimos e movemos a fé, porque sua manifestação depende de nossa vontade. Tenhamos fé!
Marlene Alves Fernandes é psicóloga, advogada, e está diretora adjunta da Área Administrativa do CCDPE
Foto de Mabel Amber by Pixabay
One thought on “A fé nos move ou movemos a fé?”
Parabéns Marlene pela profundidade e qualidade na abordagem da Fé.
Uma honra poder seu um dos seus pares no CCDPE.
Um grande abraço.
Fernando Rós
Obrigada Fernando. Para um ano atípico que tivemos, com alguns novos desafios, nada melhor que começarmos um novo ano com reflexões que nos dê sustentação. Fico feliz por tê-lo, também, como par no CCDPE. Grande abraço!
Muito bom minha amiga Marlene. Ótima reflexão a respeito da fé. Parabéns pelas iniciativa.
Grave abraço
Obrigada Marcelo. Que possamos seguir com muitas outras reflexões…
Grande abraço, amigo!
Excelente artigo. Inspirador e objetivo! Parabéns!
Obrigada Sylvia! Que possamos, sempre, nos inspirar e inspirar outros com boas reflexões. Beijo!
Obrigada Sylvia! Nossa ou do outro, a inspiração é uma grande dádiva! Beijo!
Parabéns, minha amiga… Muito pertinente a abordagem e, certamente, muito reflexiva. Leva-nos intuitivamente a acreditar que podemos. E esta é a proposta de quem escreve: construir pelas letras e conduzir pelas palavras
Obrigada amigo Edson! Sim, podemos muito mais do que imaginamos. E isso é maravilhoso! Grande abraço.