Adair Ribeiro Júnior
A ideia de homenagear Allan Kardec através de uma peça artística – que pudesse representar e transmitir emoções visuais a quem estivesse diante dela – surgiu, inicialmente, com a leitura de algumas das edições da Revista Espírita publicadas após o seu desencarne. O interesse por parte de muitos visitantes ao túmulo do inaugurador da doutrina espírita, como um destino turístico importante, também ajudou no desenvolvimento deste objetivo.
Na edição de junho de 1869, nos textos contidos no artigo “Pedra Tumular do Sr. Allan Kardec”, colhemos informações importantes fornecidas pelas pessoas que conviveram com o responsável pela elaboração das obras fundamentais do Espiritismo.
“O homem era a simplicidade encarnada; e se a Doutrina é, ela própria, simples como tudo quanto é verdadeiro, é tão indestrutível quanto as leis eternas sobre as quais repousa.”
A comissão encarregada da construção do monumento, que abrigaria os restos mortais do amado professor Rivail, foi buscar a inspiração para o projeto nos mausoléus funerários que cobriam o solo da antiga Bretanha. A representatividade da mais perfeita expressão das caraterísticas daquele homem e de sua obra seria composta, inicialmente, por duas pedras eretas de granito bruto, encimadas por uma terceira, repousando um pouco obliquamente sobre as duas primeiras, numa palavra: seria no formato de um dólmen.
Na Revista de janeiro de 1870, nos textos do “Olhar retrospectivo sobre o estado do espiritismo em 1869”, encontramos a informação que o comitê responsável por administrar a execução da obra decidira por um monumento megalítico, que seria composto por três pedras levantadas com granito bruto, e por uma quarta pedra tabular, descansando um pouco obliquamente sobre as três primeiros. Entre as três pedras – em uma coluna também elaborada de granito – estaria abrigado o busto de bronze do Sr. Allan Kardec. O artista francês Charles Romain Joseph Capellaro foi responsável por executar o modelo do monumento e por esculpir o busto em bronze do homenageado.
No dia 31 de março de 1870, os despojos de Allan Kardec foram transladados de sua sepultura original no Cemitério de Montmartre para o novo terreno, onde a edificação foi construída no Cemitério de Père-Lachaise.
O museu AKOL – AllanKardec.online adquiriu várias fotos de Allan Kardec na centenária Livraria Leymarie, nos anos de 2019 a 2021. Entre elas, estava uma foto original do busto que foi confeccionado e assinado pelo escultor Capellaro. Estávamos diante da motivação para colocar em prática o projeto de uma obra brasileira que pudesse homenagear a figura do nosso mais querido pedagogo. Entra então em cena a figura de um artista pouco conhecido, mas extremamente talentoso, que possibilitou a concretização daquele plano inicial.
A partir de várias fotos e de outras existentes na internet, foi possível ao artista brasileiro Carlos Alves reconstruir a imagem de Allan Kardec em um busto de tamanho real de 50 cm de altura. Toda a sensibilidade e talento deste artista nato podem ser constatados na obra tridimensional elaborada a partir das fotografias e desenhos que ele recebeu para execução do trabalho. Assim se expressou o artista que não é espírita:
“Tive a honra e o privilégio de ser escolhido para esculpir o busto de Allan Kardec. Um projeto gratificante de ser realizado que me trouxe grande emoção quando estava modelando, a ponto de me sentir conectado com alguma energia boa me motivando. Esta energia certamente está em todos os lugares que fala da obra de Allan Kardec, ensinando os valores do bem do amor que os seres humanos precisam para que se dar conta que a vida é a energia boa que podemos emanar dos nossos corações para todos seres humanos e animais em geral.”
O resultado não poderia ter sido mais agradável aos olhos de quem esteja diante do trabalho de Carlos. Uma homenagem incrível deste hábil escultor ao grande professor e educador, homem simples e de sabedoria ímpar, autor – junto com os ensinamentos de Espíritos Superiores – das obras fundamentais do Espiritismo.
Em 24 de novembro último, foi efetuada a entrega do busto de Allan Kardec, confeccionado em resina, aos diretores do CCDPE-ECM – Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, representados na pessoa da presidente Julia Nezu. Em breve, a entidade – constituída através de uma sociedade sem fins lucrativos – receberá, para compor o seu importante acervo, o busto do maior dos pensadores espíritas, confeccionado em bronze e em tamanho natural.
Esta obra vai se juntar ao quadro de grandes dimensões de Allan Kardec, adquirido também na Livraria Leymarie, localizada em Paris, e que, recentemente, também foi incorporado aos itens históricos que compõem o acervo do CCDPE-ECM.
O sonho idealizado pelo pesquisador Eduardo Carvalho Monteiro foi materializado nesta entidade, fundada oficialmente em 24 de julho de 2004, para oferecer informações, referências históricas, estudos e pesquisa sobre o Espiritismo, com o objetivo de fomentar a cultura espírita. O CCDPE-ECM, que incorporou na sua razão social, o nome de Eduardo Carvalho Monteiro – fazendo justa homenagem àquele que tanto batalhou pela preservação da memória do Espiritismo – mantém atualmente um dos maiores acervos de nosso país, composto por dezenas de milhares livros, jornais, periódicos e revistas, documentos e registros históricos referentes à temática espírita. Tudo disponibilizado ao público interessado de forma gratuita.
Aos poucos, a instituição vem se organizando, aumentando e incorporando itens ao seu patrimônio histórico, e se tornando cada vez mais conhecida, não só pelo movimento espírita, mas principalmente por estudantes e pesquisadores acadêmicos nas mais variadas áreas do conhecimento. Sua importância vem sendo cada vez mais reconhecida como repositório de fontes históricas da temática do Espiritismo, atraindo, inclusive, o interesse do público leigo desta doutrina. Esperamos que o busto de Allan Kardec venha colaborar para a difusão e preservação da memória espírita, não para a idolatria do homem através de um símbolo, mas para homenagear todo o seu legado. Uma pessoa que viveu o que pensava, e deixou uma importante contribuição para a ciência e a filosofia, respondendo a questões que incomodavam o homem desde tempos remotos.